Boletim Nº 1 - As Ciências Sociais no combate ao Covid-19
Este é o primeiro texto de uma série que será publicada ao longo das próximas semanas. Trata-se de uma ação conjunta, que reúne, além da ABCP, a Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS), a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e a Associação dos Cientistas Sociais da Religião do Mercosul (ACSRM).
Este boletim apresenta textos curtos com a finalidade de apresentar trabalhos das ciências sociais que, ao longo do último século, refletiram sobre epidemias.
Trata-se de um esforço para continuar dando visibilidade ao que produzimos e também de afirmar a relevância dessas ciências para o enfrentamento da crise que estamos atravessando.
Acompanhem abaixo a 1ª edição!
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Boletim 1 - Cientistas sociais e o coronavírus
Nos últimos meses a universidade sofreu ataques sistemáticos. A comunidade científica sentiu na pele a descontinuidade de seus projetos de pesquisa, vivenciou o corte de bolsas na pós-graduação e a perda de apoio para realização de eventos acadêmicos. Além disso, também nos vimos interpelados por acusações esdrúxulas como a de que os campi universitários possuem extensivas plantações de maconha.
Agora, diante de uma crise global sem precedentes os pesquisadores são lembrados. Consultam os epidemiologistas, os estatísticos, os físicos, enfim, acionam a extensa rede de especialistas para entender o que está acontecendo, o que há por vir e como devemos agir. Nessas horas parece mais fácil lembrar como o financiamento à pesquisa não é o mesmo que gasto puro e simples.
A pandemia do coronavírus colocou nas nossas conversas cotidianas pelo menos três tópicos: questões biológicas sobre a dinâmica do vírus, a gestão política em tempos de epidemia e o crescente e generalizado pânico das populações. Sobre esses temas e, principalmente, sobre a articulação entre eles, as ciências sociais têm se dedicado há décadas. Somente nos últimos anos podemos recuperar os trabalhos sobre Zika, ebola, Aids, malária e Sars. Pesquisas que receberam financiamento, que foram conduzidas com rigor e que agora nos ajudam a entender o momento que vivemos e também a imaginar algumas saídas para reduzir o impacto que o coronavírus terá em nossas vidas.
Pensando nisso, reunimos uma breve bibliografia de textos que abordam o tema das epidemias, do contágio e do controle de doenças a partir de uma perspectiva das Ciências Sociais. Ao longo dos próximos dias incluiremos novas referências, que permanecerão disponíveis abaixo.
Com relação ao Covid-19, especificamente, houve uma resposta rápida por parte do site “Somatosphere”, que publicou no dia 06/03 um fórum de debates que reuniu historiadores, cientistas políticos, sociólogos e antropólogos dispostos a refletir sobre os impactos dessa nova pandemia.
Este também é um momento oportuno para revisitarmos o blog da antropóloga Soraya Fleischer (UnB), que, junto com seu grupo de pesquisa, apresenta histórias das pessoas que continuam vivendo os impactos da epidemia do Zika Vírus. O Zika também foi tema da produção audiovisual de Debora Diniz, cujo curta-metragem nos permite chegar mais perto dos dramas e dilemas de ser afetado por uma epidemia.
Como já temos percebido, os efeitos do Corona estão muito além de ser contagiado ou não. As ciências sociais nos ajudam a perceber como as epidemias nos afetaram ao longo da história e como o debate sobre as formas de reagir a ela sempre envolvem questões que extrapolam o agente biológico. Essa também é a hora de olharmos para o conhecimento produzido pelas Ciências Sociais.
Rodrigo Toniol
Professor de Antropologia da Unicamp
- Links para os trabalhos
Textos: epidemia, saúde e antropologia
Documentário 'Zika', Debora Diniz
Estadão - 'O exemplo da Fapesp'