Nota de pesar – Luiz Jorge Werneck Vianna

Faleceu na tarde da última quarta-feira, aos 85 anos, Luiz Jorge Werneck Vianna, personagem central das Ciências Sociais brasileiras, responsável pela formação de algumas gerações de cientistas sociais ao longo das últimas décadas, além de intelectual público marcante na defesa da democracia.

Werneck foi professor e pesquisador do antigo Instituto de Pesquisas Universitárias do Rio de Janeiro (IUPERJ), da PUC-Rio, e coordenador do Centro de Estudos Direito e Sociedade.

Era graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967), e em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1962), tendo cursado o doutorado em Sociologia na Universidade de São Paulo (1976). Foi presidente da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) e membro do Conselho Consultivo do Departamento de Pesquisas Judiciárias, do Conselho Nacional de Justiça. Ao longo da sua trajetória como professor e pesquisador, desenvolveu pesquisas na área de Sociologia, com ênfase em Fundamentos da Sociologia, atuando principalmente nos temas da democracia, judicialização da política e das relações sociais, sindicalismo, corporativismo, intelectuais e pensamento social brasileiro.

Publicou, dentre outros, de “Liberalismo e sindicato no Brasil”, obra fruto de sua tese de doutoramento, escrita no contexto particular da década de 1970, que figura hoje como um dos clássicos de interpretação do Brasil; “A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil”, obra que recebeu o prêmio Sergio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional; co-autor de “Judicialização da política e das relações sociais no Brasil” e “Corpo e alma da magistratura brasileira”, ambos responsáveis pela consolidação dos estudos sobre as relações entre o judiciário e a democracia; além de vasta produção na análise da conjuntura, artigos em periódicos especializados e jornais.

Por suas reflexões acerca do papel do Judiciário na democracia contemporânea e sua atuação na formação de magistrados no país, Werneck recebeu a Comenda do Mérito do Judiciário do Trabalho, concedida pelo Tribunal Superior do Trabalho; a Medalha do Mérito Judiciário, da Associação dos Magistrados Brasileiros; e o Colar do Mérito Judiciário, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

Além do retrato público do intelectual, Werneck era um professor por excelência. As gerações que por ele passaram atestam a vivacidade de um intelectual apaixonante, apaixonado, dedicado ao contínuo processo de formação de jovens cientistas sociais, ministrando aulas das quais poucos passaram incólumes. Ao lado disso, conservou o empenho na orientação dos estudantes, sendo responsável pela defesa de inúmeras teses e dissertações.

Decerto uma das maiores lições do professor Luiz Werneck Vianna aos seus estudantes era falar do Brasil com paixão, com o empenho de quem acredita que ele pode ser feito.

Em 2010 a Universidade Federal de Juiz de Fora organizou, em homenagem ao Werneck, um seminário que discutiu os temas abordados em sua obra, como parte integrante da Cátedra que leva o seu nome. Foi uma semana instigante, encerrada com uma conferência do próprio Werneck.

Na conferência, ele se dizia surpreso com a homenagem: o fato de ter se tornado nome de Cátedra universitária. Sua geração, engajada com a luta pela democracia num momento sombrio da nossa história, imaginava tudo, menos isso. Werneck disse à época que para ele “a vida ordinária era um insulto, [ele] queria ser um tribuno da plebe”. Essa declaração, e muitas outras ouvidas naquela noite, reverberaram por algum tempo nos que estavam presentes.

Todavia, nesse momento de tristeza pela sua partida, importa lembrar que Werneck conformou não apenas a teoria sociológica e o pensamento social brasileiro; mas, de alguma forma, o que muitos de nós compreendemos como o papel do cientista social na vida pública e a tarefa dos intelectuais no mundo contemporâneo, se deve a ele.

Werneck, melhor do que ninguém, soube tornar extraordinário o lado ordinário da vida acadêmica.

Sentiremos saudades, professor.

Diogo Tourino de Sousa

Departamento de Ciências Sociais – UFJF

22 de fevereiro de 2024

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